segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

ARTIGO CIENTÍFICO


O DISCURSO POLÍTICO ELEITORAL COMO PROPOSTA DE TRABALHO EM SALA DE AULA: UMA ANÁLISE DA CONSTITUIÇÃO DAS IDENTIDADES NO DISCURSO DOS CANDIDATOS MARTA E KASSAB

 
                                                                                       

 
 RESUMO:

 
O objetivo deste artigo é discutir a possibilidade de trabalho com o gênero textual político, fazer uma breve análise do discurso político dos candidatos - Marta Suplicy e Gilberto Kassab - no processo da disputa eleitoral para o cargo de prefeito da Cidade de São Paulo e demonstrar de que forma o professor pode abordar, em sala de aula, o gênero textual político e suas características que, muitas vezes, estão fora dos livros escolares, mas presentes no cotidiano social dos alunos (no caso o ano eleitoral de 2014). 

PALAVRAS-CHAVE: prática docente, gêneros textuais, discurso político, pressupostos, formação imaginária.

 
 INTRODUÇÃO
 
É sabido que o papel do professor de Língua Portuguesa, dentre outras coisas, é proporcionar aos alunos diversidade de gêneros textuais a fim de levá-los a refletir acerca da língua e dos mais diversos recursos linguísticos, como, aliás, recomenda o PCN de língua portuguesa (BRASIL, 1998). Diariamente, os alunos são bombardeados fora da escola por textos e imagens que informam muito mais do que aparentam, ou seja, em seu bojo há muito mais significados, dentre eles, as informações implícitas. Além disso, os vários livros didáticos usados nas escolas públicas apresentam, geralmente, uma gama de textos previsíveis como (narrativos, descritivos, argumentativo, expositivos, entre outros).

O currículo proposto pelo Estado e Prefeitura de São Paulo para língua portuguesa (e aqui na cabe nenhuma crítica), por exemplo, oferece livros didáticos, apostilas e cadernos de apoio para que o professor possa trabalhar conteúdos e textos com os alunos. Mesmo sabendo que muitos são materiais de apoio, e não fim exclusivo, pudemos perceber, durante estágios realizados nas escolas EMEF Bendito Calixto e Escola Estadual Governador Paulo Sarasate, que, geralmente, os professores preferem apoiar suas aulas nos textos contidos nos materiais de apoio, livros didáticos, entre outros, deixando de lado textos que circulam nas várias esferas sociais, inclusive no dia a dia dos alunos, impossibilitam o trabalho com gêneros textuais que, muitas vezes, não estão nos livros usados em sala de aula, mas nas ruas. 

Bakhtin nos diz que “é preciso dominar bem os gêneros para empregá-los livremente” (p. 284).

Quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a nossa individualidade (onde isso é possível e necessário), refletimos de modo mais flexível e sutil a situação singular da comunicação; em suma, realizamos de modo mais acabado o nosso livre projeto de discurso. (BAKHTIN, 2003, p. 285).
 
Diante disso, defendemos que haja, também (fato que justifica o artigo), um trabalho de ensino e de prática de leitura diária que levem em conta tanto a diversidade de textos que circulam em sociedade quanto suas particularidades (elementos linguísticos presentes). Cada gênero apresenta variadas formas de linguagem que circulam em nossa sociedade, sejam eles formais ou informais e tem estilo próprio, podendo, ser identificado e diferenciado dos demais através de suas características.

Dentre os vários elementos linguísticos presentes no texto, podemos destacar as categorias de análise postos, pressupostos e subentendidos como partes de uma análise ampla de um texto, porque a leitura não se dá apenas no dito (verbal e visual), mas também, nas entrelinhas, por trás do que é dito (nos implícitos), ativados pelos pressupostos, por meio de elementos linguísticos. Com isso, faz-se necessário que o professor torne rotineiro e gradativo (conforme a série) a leitura e análise de diversos textos para que o aluno desenvolva habilidades e competências necessárias para dialogar com as várias esferas discursivas sociais. O papel do professor língua português é, também:

[...] conduzir o aluno ao estudo de aspectos semântico-discursivos, especificamente das noções de pressupostos e subentendidos, para o desenvolvimento de habilidades de leitura nos diversos níveis de escolaridade, com vistas a contribuir para a formação de leitores atuantes e críticos, capazes de encarar a leitura como um processo dialógico. (FERNANDES, 2011, p. 2).

            Um corpus privilegiado para o estudo de aspectos semântico-discursivos é a propaganda política. 2014 é um ano eleitoral, teremos eleições presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Nas ruas das cidades circularão panfletos e propagandas sobre os candidatos e suas propostas. Certamente, esses gêneros estarão carregados de significados, pois o marketing político trabalha para que o interlocutor desse material se convença de que o candidato x ou y seja a melhor opção para representar o povo. Portanto, Momento significativo para que o professor de língua portuguesa traga esse material para a sala de aula, discuta e analise-o junto aos alunos. 

Com isso, propomo-nos a analisar um corpus político - o discurso eleitoral dos candidatos a prefeito de São Paulo Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (Democratas) que veicularam suas propagandas nos panfletos distribuídos pelas ruas, durante o segundo turno das eleições para prefeito de São Paulo, em 2008 e demonstrar de que forma o professor pode apresentar, abordar e explorar esse tipo de gênero textual em sala de aula.

Nossa intenção não é dar nenhuma formula ou esgotar as possibilidades de análise no texto, mas, sim, apontar um caminho e mostrar uma possibilidade de trabalho com o gênero discursivo política. Ou seja, chamamos a atenção para a necessidade de se apresentar para os alunos outros tipos de texto que não constam nos livros e cadernos de apoio, cabendo ao professor escolher de que forma, com quem e para quem ele vai trabalhar com esse conteúdo, a nosso ver passível de adaptação. Além disso, a escolha do corpus se justifica porque ainda não há em circulação panfletos dos candidatos a eleição – 2014. Usamos material disponível em nossos arquivos. É importante que o professor também realize a análise com materiais atuais.

            Para que a nossa proposta fique clara, especificamente, levantaremos as informações implícitas e analisaremos de que forma os candidatos Marta Suplicy e Gilberto Kassab constroem sua imagem e a imagem do outro, por meio da linguagem, a fim de chamar a atenção da população em busca dos votos. Para alcançar esse objetivo utilizaremos o conceito de pressupostos segundo a autora Ingedore Koch, e a teoria da formação imaginária proposta por M. Pêcheux. As questões que sustentam a nossa análise são: a) qual dos candidatos empregou um discurso mais agressivo? b) qual deles apostou mais na sua própria imagem? c) qual deles apostou mais na difusão do plano de governo? O corpus deste artigo é constituído por fragmentos dos panfletos dos dois candidatos, distribuídos pelas ruas da cidade.

            Num primeiro momento, o professor pode combinar com os alunos para que eles coletem materiais distribuídos nas ruas; chamar a atenção da turma para os aspectos estéticos dos panfletos, cores, imagens, formas e conteúdos, de preferência com panfletos atuais. Num segundo momento, pode expor a parte conceitual e teórica para, então, entrar com a análise dos pressupostos no texto, ou vice e versa, de acordo com série. O importante é que os alunos sejam levados a se apropriar das características desse discurso. Quanto ao tempo estimado, fica a cargo do professor organizar as atividades de análise dentro do seu planejamento.

 
EMBASAMENTO TEÓRICO

 
Os sujeitos e suas ações na sociedade, desde os atos mais simples até os mais complexos, são constituídos pela linguagem. Diante disso, compreendemos linguagem como trabalho e não apenas como suporte do pensamento, ou como o elemento necessário pela sustentação do processo comunicativo – definições que não dão conta do complexo funcionamento da linguagem. (TORRESAN, 2001, p.1).

Linguagem e interatividade são termos que se complementam. O processo interativo resulta em produção de diversos discursos, cuja finalidade de seus produtores deixa de ser, em vários casos, uma simples comunicação gratuita e sim uma criação de efeito de sentido, afinal “a linguagem enquanto discurso é interação, é um modo de produção social; ela não é neutra, inocente (na medida em que está engajada numa interacionalidade) e nem natural, por isso o lugar privilegiado da ideologia”. (BRANDÃO, 1996, p.12). A linguagem diante disso é compreendida como lugar de conflito, de confronto ideológico, não podendo ser separada do momento histórico.

Para a Análise do Discurso, o discurso é uma prática, uma ação do sujeito sobre o mundo. Por isso, sua aparição deve ser contextualizada como um acontecimento, pois funda uma interpretação e constrói uma vontade de verdade. Quando pronunciamos um discurso agimos sobre o mundo, marcamos uma posição - ora selecionando sentidos, ora excluindo-os no processo interlocutório.

Neste artigo analisamos um gênero discursivo que constitui um lugar privilegiado da relação entre a língua, à história e a ideologia: o discurso político. O que nos interessa, especificamente e de forma sucinta, é o discurso eleitoral das eleições 2008 para prefeito de São Paulo, onde figuram como concorrentes do segundo turno: Marta Suplicy[1] (PT) e Gilberto Kassab[2] (Democratas) que veicularam suas propagandas nos panfletos distribuídos pelas ruas que cortam a (Praça da República-região central da cidade de São Paulo) durante o segundo turno das eleições para prefeito de São Paulo.

 
DISCURSO POLÍTICO: DISCURSO E MARKETING
 

O discurso que é produto do período eleitoral é construído com a intenção de chamar a atenção e de fazer com que os interlocutores (a população) assumam este discurso – portanto há uma estratégia de marketing muito acentuada praticamente parecida com os anúncios publicitários de outros tantos produtos. Aqui o professor pode discutir com os alunos a influencia das propagandas, mídias, imagens e crenças.

É possível afirmarmos que o discurso político se constitui de outros discursos, ou seja, há no discurso do período eleitoral uma relação interdiscursiva. Na prática, significa que o que é produzido pelos políticos (pelos partidos) em períodos eleitorais é constituído também pelo discurso do marketing, como justificar, por exemplo, o trabalho dos candidatos a fim de conquistar o voto dos eleitores indecisos? Como justificar as massivas propagandas eleitorais e a quantidade de propagandas panfletárias que circulam pela cidade durante as eleições?

Para destacar alguns conceitos que norteiam o discurso político, evocamos o conceito utilizado pela autora Jacques Sequela em seu livro: “VOTO É MARKETING O RESTO É POLÍTICA” apud Roberto (2002), onde destaca alguns princípios estratégicos que contemplam todo o trabalho do marketing político, para que o candidato tenha sucesso frente às eleições:

1° Conheça o que pensa o eleitor, antes de partir para a sua conquista;

2° Não basta ter o perfil desejado pela população, é preciso associar sua imagem a ele antes dos adversários;

3° Trabalhe na linha de menor resistência ou posicionamento na mente do eleitor;

4° O eleitor sempre associará o candidato à continuidade ou mudança. Compatibilize sua imagem com a tendência predominante, respeitando os limites impostos por sua personalidade;

5° Confirme os defeitos do inimigo junto ao eleitorado. Ataque nesse ponto;

 A partir dessas estratégias é que verificaremos como se materializa as imagens de cada candidato. É fundamental, portanto, que “o político deve fazer uso de todas as estratégias disponíveis para fazer com que o maior número de cidadãos adira a suas ideias, a seu programa, à sua política e à sua pessoa”. (CHARAUDEAU, 2008, p.84). Para o autor a construção das imagens só tem razão de ser se for voltada para o público, pois elas devem funcionar como suporte de identificação, via valores comuns desejados.

Nesse momento, o professor pode discutir com a turma a respeito do discurso das propagandas, suas características apelativas, pode, também, discutir sobre as propagandas políticas, o que mais chama a atenção, aspectos políticos e partidários. O importante é tomar nota do discurso político associado ao marketing.
 

AS FORMAÇOES IMAGINÁRIAS


Adotamos o seguinte posicionamento: “o discurso pertence a um sistema de normas que derivam da estrutura de uma ideologia política, correspondendo, pois, a um certo lugar no interior de uma formação social dada”. (PÊCHEUX, 1993, p.77).

Desta forma, as posições que um indivíduo pode ou deve ocupar no discurso são autorizadas pelas formações imaginárias, que derivam da experiência humana, ao longo do tempo no contexto social. Ou seja, a imagem que o indivíduo faz da posição (ou posições) que ocupa em um determinado discurso origina-se de uma formação imaginária e manifesta-se discursivamente por meio da materialidade linguística, podendo haver marcas linguísticas específicas que revelem a posição de sujeito assumida por quem diz.

Toda vez que o sujeito de um discurso toma a palavra, ele mobiliza um funcionamento discursivo que remete a formações imaginárias. De acordo com Pêcheux (1993) o discurso produzido por um sujeito pressupõe um destinatário que se encontra num lugar determinado na estrutura de uma formação social. Tal lugar aparece representado no discurso por formações imaginárias que designam o lugar que o sujeito e o destinatário se atribuem mutuamente, ou seja, a imagem que fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro.

Ainda nas concepções de Pêcheux (1993), num discurso estão presentes: um sujeito A e um destinatário B, que se encontra em lugares determinados na estrutura de uma formação social. Esses lugares se acham não apenas representados nos processos discursivos, mas transformados. Daí um discurso não implicar necessariamente uma mera troca de informações entre A e B, mas sim um jogo de “efeitos de sentido” entre os participantes. Os sentidos seriam produzidos por um certo imaginário, que é social e é, por sua vez, resultado das relações entre poder e sentidos. E a ideologia seria a responsável por produzir o desconhecimento dos sentidos através de processos discursivos observáveis na materialidade linguística.

Em Pêcheux (1993) fica evidente que os sentidos são produzidos num imaginário social, resultante das relações entre poder e sentidos, emitindo esforços para que o efeito de sentido produza a impressão de um sentido único, é um jogo de efeitos de sentido, no qual os sujeitos se encontram em lugares determinados na estrutura de uma formação social. Esses lugares designam as imagens que os interlocutores fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro:


IA (A): Imagem que o locutor faz de si próprio – Quem sou eu para falar da forma como falo?

IA (B): Imagem que o locutor faz do seu interlocutor - Quem é ele para que eu lhe fale assim?

IB(B): Imagem que o interlocutor faz de si próprio - Quem sou eu para que ele me fale assim?

IB (A): Imagem que o interlocutor faz do locutor - Quem é ele para que me fale assim?

Tabela formulada a partir de Pêcheux (1993, p.83).

 Isso pressupõe que no processo discursivo os sujeitos envolvidos já fazem uma antecipação do seu interlocutor, o que já orienta a formulação do emissor; o que os candidatos a prefeito de São Paulo divulgaram em suas propostas e a forma como tratam os assuntos, vai ser influenciada pela representação que cada um tem de si mesmo, do outro e pela imagem que faz de seus eleitores, para isso precisa antecipar as questões e o referente.

Em nossa proposta de análise nos interessa as formações imaginárias do lugar de A, representado pelos candidatos Marta Suplicy e Gilberto Kassab com suas respectivas representações partidárias e estratégias discursivas que vão resultar na imagem de cada um, o lugar de B onde cada candidato constrói a imagem do outro por meio do discurso e, por fim, como ambos constroem a imagem do referente C (sua identidade), representado pelos eleitores. Para chegar às imagens criadas por cada candidato, destacaremos e analisaremos as informações implícitas, que, revelam de que forma cada candidato diz o que diz e o que está por trás desse dizer na superfície textual constituindo as formações imaginárias.

Aqui o professor pode pedir para a turma dizer qual a imagem que certas pessoas, profissionais ou famosos transmitem e como ela fala na posição em que se encontra. Por exemplo, um jogador de futebol que, geralmente, apresenta uma imagem e comportamento discursivo regular. Pode-se questioná-los quanto à imagem que cada candidato eleitoral passa para eles e assim por diante.

 
AS INFORMAÇOES IMPLÍCITAS
 

Concordamos com Koch (2002, p.159) quando destaca que “cumpre mostrar-lhe que, além da significação explícita, existe toda uma gama de significações implícitas, muito mais sutis, diretamente ligadas à intencionalidade do produtor”.

Ao analisar as relações de sentido em enunciados, algumas palavras ou expressões introduzem pressuposição. Entre os indicadores linguísticos de pressuposição, podem-se citar certos adjetivos ou palavras similares modificadoras do substantivo, verbos que indicam mudança ou permanência de estado, advérbios, orações adjetivas e conjunções, os quais, ao serem identificados, contribuem para uma leitura mais aprofundada do texto.

Para Koch (2004, p.160), “a intelecção de um texto consiste na apreensão de suas significações possíveis, as quais se representam nele, em grande parte, por meio de marcas linguísticas”. Na leitura e interpretação de um texto, é muito importante detectar os pressupostos, pois o seu uso é um dos recursos argumentativos utilizados com vistas a levar o ouvinte ou o leitor a aceitar o que está sendo comunicado. Ao introduzir uma ideia sob a forma de pressuposto, o falante transforma o ouvinte em cúmplice, uma vez que essa ideia não é posta em discussão e todos os argumentos subsequentes só contribuem para confirmá-la.

Para Ducrot apud Koch (2004, p.56) “pressupor não é dizer o que o ouvinte sabe ou o que o se pensa que ele sabe ou deveria saber, mas situar o diálogo na hipótese de que ele já soubesse”, além disso, o autor destaca o que chama de pressuposto:

Chamarei de pressuposto de um enunciado às indicações que ele traz, mas sobre as quais o enunciador não quer (ou faz como se não quisesse) fazer recair o encadeamento. Trata-se de indicações que se dá como estando à margem da linha argumentativa do discurso. (KOCH, 2004, p.65).

 
Portanto, nos utilizaremos dessa concepção para verificar o que está por trás do que é dito e quais são os possíveis sentidos desse não dito na formação da imagem dos candidatos.

Aqui cabe uma discussão a respeito de como criamos a imagem das coisas, fatos e pessoas. O professor pode reforçar a discussão pedindo para que os alunos digam qual imagem eles fazem de certos candidatos, postos de trabalho, personalidades, cantores, artistas, ou seja, quais comportamentos sociais e linguísticos são esperados por aquele individuo na posição em que ocupa.

 
Discursos da candidata Marta Suplicy

 
Panfleto 1 – (pág. A)


1. § - “Quero ser prefeita porque amo esta cidade. Porque é preciso terminar o trabalho que começamos. Porque São Paulo quer mudar".

2. § - E, para mudar, precisa de uma nova atitude.

3. § - O maior desafio é diminuir a desigualdade social. Precisamos melhorar a vida de todos. Mas, principalmente, dos que mais necessitam.

4. § - Vamos ampliar os programas para os mais pobres. E apoiar, fortemente, os que saíram da pobreza – e agora formam uma nova classe média. Os que têm melhor nível de renda também precisam ser atendidos, porque são os que pagam mais impostos.

5. § - O trânsito e o transporte não podem continuar dando tanto prejuízo e dor de cabeça. O sistema de saúde precisa melhorar o atendimento, acabar a demora absurda nos exames e oferecer serviços de especialidades para tratar as doenças mais sérias.

6. § - Na segurança, temos que combater a violência e a criminalidade.

7. § - Na educação, temos que melhorar a qualidade do ensino e criar a Rede CEU, fazendo com que os CEUs cheguem a toda a cidade.

8. § - Os problemas são muitos. Mas com realismo, coragem e criatividade, podemos vencê-los.

9. § - Para isso é preciso uma nova atitude.

 

Quadro das informações implícitas contidas no discurso:




Identificação dos parágrafos

Informações Implícitas

1o. Parágrafo

- Kassab não ama a cidade e não terminou o que foi deixado por Marta;

- há um índice de polifonia que deixa evidente uma voz, no caso, a sociedade paulistana pede mudança e está cansada do atual governo.

2o. Parágrafo

- A gestão e atitude de Kassab estão ultrapassadas.

3o. Parágrafo

- Há desigualdade social na sociedade paulistana ainda permanece na gestão atual;

- a vida da população está ruim e pior ainda está a vida dos mais carentes.

4o. Parágrafo

- Os atuais programas não atendem os mais pobres. Parte da população que sai da pobreza para a classe média não tem apoio, por parte do prefeito, para permanecer na mesma, apesar de pagarem mais impostos.

5o. Parágrafo

- O sistema de transporte administrado pelo prefeito ocasiona prejuízo e preocupações à população;

- o sistema de saúde está ruim e demorado e não atende adequadamente a população. O sistema de saúde está deficitário e impossibilitado de atender as necessidades da população.

6º. Parágrafo

- A cidade ainda sofre com a falta de segurança e a criminalidade.

7º. Parágrafo

- O ensino das escolas da cidade está ruim e faltam escolas em pontos da cidade.

8º. Parágrafo

- Na gestão do atual prefeito há vários problemas;

- falta realismo, coragem e criatividade, por parte do prefeito, para resolver os problemas da cidade.

9º. Parágrafo

- Kassab não tem atitude adequada para governar a cidade.

IAB = a imagem que o candidato do panfleto faz do seu concorrente:

Para a candidata Marta, na gestão do atual prefeito, há vários problemas, falta realismo, coragem e criatividade por parte do prefeito para resolver os problemas da cidade. Kassab não tem atitude adequada para governar a cidade. Kassab não ama a cidade e sua gestão está ultrapassada.

IAA = a imagem que o candidato do panfleto faz de si mesmo:

Marta afirma amar a cidade, ela associa sua imagem a de uma prefeita que irá acabar com as desigualdades sociais, apoiar pobres e recém-saídos da pobreza. Acredita que irá sanar os problemas da saúde e acabar com a violência. Marta associa sua imagem a de uma prefeita realista, corajosa e criativa para governar a cidade.

IAR = a imagem que o candidato faz do referente do discurso, ou seja, das necessidades da população e/ou promessas de campanhas:

Para a candidata, a população suplica por uma nova atitude, por alguém que ama a cidade e irá tirá-la da desigualdade social, amparar as pessoas carentes, necessitadas de saúde, segurança e educação. Com isso, a candidata propõe soluções para essas carências da população.

 
Discursos do candidato - Gilberto Kassab
 

Panfleto 2 – (pág. B-1)

“O melhor da saúde”


1. § - O melhor da saúde. “Kassab manteve ações de Serra, ampliou e criou programas importantes para a saúde”.

2. § - Havia 21 AMAs quando Kassab assumiu. Fez mais 89, completando 110 AMAs.

E ele quer mais. Criou as AMAs Especialidades. Já fez 2, vai fazer 15.

3. § - Completou e entregou os dois mais modernos hospitais da rede pública municipal, Cidade Tiradentes, na Zona Leste, e M’Boi Mirim, na Zona Sul. E ainda este ano vai começar as obras de mais um, o Hospital Parelheiros.

4. § - Reformou e colocou computadores nos postos de saúde.

5. § - Esta administração resolveu a falta de remédios nos postos de saúde.

6. § - Nenhum outro governo fez tanto pela saúde da população de São Paulo.

 

Quadro dos pressupostos contidos no discurso:




Identificação dos parágrafos

Informações Implícitas

1º. Parágrafo

- O ex-prefeito José Serra mantinha programas importantes para a área da saúde e esses programas necessitavam serem ampliados.

2o. Parágrafo

- Havia um número insuficiente de unidades de AMAs;

- Kassab está suprindo essa necessidade.

3º. Parágrafo

- Kassab investe em construção de hospitais;

- começa e termina as obras ao contrário de sua adversária.

4º. Parágrafo

- Os computadores dos postos de saúde estavam velhos e precários e não havia o suficiente para a demanda.

5º. Parágrafo

- Na gestão da ex-prefeita Marta havia falta de remédios nos postos de saúde;

- Kassab resolveu o problema.

6º. Parágrafo

- Só Kassab faz o suficiente para a saúde.

IAB = a imagem que o candidato do panfleto faz do seu concorrente:

Para o candidato, a ex-prefeita não investia na área da saúde, havia um número insuficiente de AMAs, faltavam hospitais, remédios nos postos de saúde e a infraestrutura dos postos estavam velhos. Marta não dava atenção á saúde da cidade.

IAA = a imagem que o candidato do panfleto faz de si mesmo:

Kassab associa sua imagem a de seu antecessor José Serra e acredita ser o responsável pelo avanço na área da saúde. Kassab começou e terminou as obras e resolveu os problemas de saúde da cidade.

IAR = a imagem que o candidato(a) faz do referente do discurso, ou seja, das necessidades da população e/ou promessas de campanhas:

Segundo o candidato, a população necessita de mais programas de saúde, mais postos de saúde AMAs, mais hospitais e mais remédios nos postos. Kassab trabalhou e resolveu os problemas da população.

 
CONSIDERAÇOES FINAIS
 

Qual deles empregou um discurso mais agressivo?

Podemos verificar na análise que, a candidata Marta Suplicy utilizou-se de mais adjetivos para caracterizar seu adversário Gilberto Kassab: falta realismo, coragem, criatividade, não tem atitude adequada para governar a cidade, não ama a cidade.

O atual prefeito apesar de utilizar-se do passado para expor e criar a imagem da candidata utiliza menos adjetivos para qualificar sua adversária, para o candidato, a ex-prefeita Marta não dava atenção á saúde da cidade.

Podemos verificar que a candidata se preocupou mais em atingir a imagem do seu adversário Gilberto Kassab. Apesar de o candidato também aferir acusações descaracterizando a imagem da candidata, podemos verificar que ocorre com menos intensidade do que no discurso da candidata, que forja uma identidade para seu concorrente.

 Qual apostou mais na sua própria imagem?

A candidata Marta associa a sua imagem a do presidente Lula e coloca sua imagem como uma prefeita que irá acabar com as desigualdades sociais e apoiar pobres; julga-se: realista, corajosa e criativa, obstina em relação à ascensão da população.

O candidato Gilberto Kassab associa sua imagem a de seu antecessor José Serra e acredita ser o responsável pelo avanço na área da saúde, colocando-se como o responsável por resolver os problemas de saúde da cidade.

 Qual deles apostou mais na difusão do plano de governo?

A candidata Marta, no panfleto (1), preocupou-se em destacar o que havia feito de mais significante em sua gestão. Observando a composição das partes selecionadas, fica claro que a candidata apostou mais na difusão de seu plano de governo do que o candidato Gilberto Kassab. Este se preocupou mais em apontar o que havia feito em seus dois anos de governo.

Fica evidente que, em véspera de eleição, os candidatos procuram alcançar seus objetivos por meio de discursos e construções imaginárias que, se não são bem analisadas, constrói uma rede interpelativa onde cabe apenas ao eleitor escolher aquele cuja imagem e propostas mais agradam como prefeito. Fica evidente, a necessidade de analisarmos e discutirmos em sala de aula qual discurso eleitoreiro se encontra em determinado momento da eleição, para que, de fato, nós e nossos alunos saibamos com que tipo de propaganda estamos expostos e que tipo de candidato nos são “oferecidos”.

            Um material tão rico como esse, pode e deve ser levado para as aulas de língua portuguesa. Certamente, esses materiais não estão nos livros didáticos e nem são abordados dessa forma, o que destaca ainda mais a necessidade de trabalharmos esse tipo de análise. O professor de língua portuguesa deve proporcionar aos seus alunos contato com o mais variados gêneros textuais para que o aluno possa conhecer, interpretar, escrever e recriá-los. Em ano eleitoral, nada melhor do que aproveitar a oferta de propagandas políticas para instrumentalizar nossos alunos com uma leitura mais apurada dos mecanismos eleitorais.

            Além disso, o material de propaganda política oferece uma gama de oportunidades de exploração que não foram contempladas aqui. O professor pode organizar diversas formas de análise do material, construindo com os alunos atitudes de leitura crítica.
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Ática, 2003.

BEZERRA, Maria Auxiliadora. Textos: seleção variada e atual. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Ana Raquel (orgs.). O livro didático de Português: múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.

 BRANDÃO, H. H. N. Introdução à Análise do Discurso. 5° ed., Campinas-SP, Editora da Unicamp, 1996.

 BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.

 CARDOSO, Silvia Helena Barbi. Discurso e ensino. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

 CHARAUDEAU, Patrick. Discurso Político. Trad. Fabiana Komesu e Dílson Ferreira da Cruz. – 1° ed., 1° reimpressão. São Paulo: Contexto, 2008.
 
FERNANDES, N. M. Desenvolvimento de habilidades de leitura de textos a partir de análise de pressupostos e subtendidos. In:

http://www.filologia.org.br/ixsenefil/anais/11.htm. Acessado em: 09/01/2014.

 KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.

___________. Argumentação e Linguagem. 9° ed. São Paulo: Cortez, 2004.

 PÊCHEUX, Michel. Por uma Análise Automática do Discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. In: GADET, F e HAK T.; tradutores Bethania S. Mariani... [et al.] – 2° ed., Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1993.

 ROBERTO, Valdir da Silva. Marketing Político. On line, São Paulo, 2002, disponível em: http://www.assessoriapolitica.com/mostra_artigo.asp?id=17 Acesso em: 10 Jan. 2014.

TORRESAN, Jorge Luís. A interação Pastor X Fiel da Igreja Universal do Reino de Deus no Jornal Folha Universal – Um Jornal a Serviço de Deus. São Paulo, 2001, p.01. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem), Universidade Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.





[1] Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy (São Paulo, 18 de março de 1945), filiada ao PT. Já foi prefeita da cidade São Paulo.


[2] Gilberto Kassab (São Paulo, 12 de agosto de 1960), filiado ao partido - Democratas (DEM), é economista, engenheiro civil e político brasileiro. Prefeito da cidade de São Paulo na ocasião.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Dissertaçao a respeito da Gestao Democrática - Pedagogia - 2013

O papel do gestor


A gestão escolar, numa perspectiva democrática, tem características e exigências próprias. Para efetivá-la, devemos observar procedimentos que promovam o envolvimento, o comprometimento e a participação das pessoas. Para isto, torna-se necessário promover atividades e exercer funções que promovam a presença e o fortalecimento da atuação das pessoas no interior das escolas. No entanto, o modo democrático de gestão envolve o exercício do poder, incluindo os processos de planejamento, a tomada de decisões e a avaliação dos resultados alcançados, etc... Trata-se, portanto, de fortalecer procedimentos de participação das comunidades escolar e local no governo da escola, descentralizando os processos de decisão e dividindo responsabilidades. (Pág.15).


Para que o processo de democratização das decisões escolares se efetive na prática, faz-se necessário que, principalmente, o gestor da escola promova a participação efetiva do corpo docente, funcionários, pais, gestores e toda a comunidade. A escola deve ter o compromisso de incorporar todos esses protagonistas no processo de decisão e gestão de sua U.E.

Alguns fatores podem contribuir para isso, como fortalecer o conselho de escola, grêmio estudantil; trazer a comunidade para dentro da escola, contar com auxilio e participação efetiva dos pais no conselho da “APM” quanto na gestão de recursos e seu emprego. Além disso, deve envolver todos os parceiros, diretos e indiretos, para contribuírem.

A partir do momento que a escola consegue promover essa participação efetiva dos vários atores, de forma democrática, a escola terá a oportunidade de escolher seu caminho de forma mais clara, objetiva, e, o mais importante, conseguirá atender a sua comunidade, sempre visando à superação das desigualdades e deficiências, que existir ou possam ocorrer. A participação coletiva é imprescindível na gestão democrática.

Além disso, é importante que haja abertura para que os envolvidos nesse processo expressem sua opinião; é necessário que haja determinação de responsáveis para execução e asseguramento do combinado; faz-se fundamental estabelecimento de regras e condutas de participação e, que, as ideias sejam incorporadas e divulgadas a toda comunidade, no intuito de promover um ensino de qualidade cujo objetivo seja a qualidade do processo educativo.


Uma maior participação e envolvimento da comunidade nas escolas produzem “respeito à diversidade cultural, à coexistência de ideias e de concepções pedagógicas, mediante um diálogo franco, esclarecedor e respeitoso, formulações de alternativas, após um período de discussões onde as divergências são expostas. Tomada de decisões mediante procedimentos aprovados por toda a comunidade envolvida, participação e convivência de diferentes sujeitos sociais em um espaço comum de decisões educacionais”.

Diante disso, o diretor deve ser a figura mediadora do processo, deve garantir e motivar que todas as discussões e decisões sejam absorvidas e praticadas no bojo escolar. Acreditamos que a partir do momento em que a escola leva em conta as decisões coletivas, ela consegue ter clareza de seus passos e procedimentos e, principalmente, aonde sua clientela quer chegar.

O papel do diretor como mediador garante o preceito legislador:

Art. 14 Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Art. 15 Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. (Pág. 35).


BIBLIOGRAFIA

Dourado, Luiz Fernandes Progestão: como promover, articular e envolver a ação das pessoas no processo de gestão escolar? módulo II / Luiz Fernandes Dourado, Marisa Ribeiro Teixeira Duarte; coordenação geral Maria Aglaê de Medeiros Machado. -- Brasília: Consed – Conselho Nacional de Secretários de Educação, 2001.