O DISCURSO
POLÍTICO ELEITORAL COMO PROPOSTA DE TRABALHO EM SALA DE AULA: UMA ANÁLISE DA
CONSTITUIÇÃO DAS IDENTIDADES NO DISCURSO DOS CANDIDATOS MARTA E KASSAB
O objetivo deste
artigo é discutir a possibilidade de trabalho com o gênero textual político, fazer
uma breve análise do discurso político dos candidatos - Marta Suplicy e
Gilberto Kassab - no processo da disputa eleitoral para o cargo de prefeito da
Cidade de São Paulo e demonstrar de que forma o professor pode abordar, em sala
de aula, o gênero textual político e suas características que, muitas vezes,
estão fora dos livros escolares, mas presentes no cotidiano social dos alunos
(no caso o ano eleitoral de 2014).
PALAVRAS-CHAVE: prática docente, gêneros textuais, discurso
político, pressupostos, formação imaginária.
É
sabido que o papel do professor de Língua Portuguesa, dentre outras coisas, é
proporcionar aos alunos diversidade de gêneros textuais a fim de levá-los a
refletir acerca da língua e dos mais diversos recursos linguísticos, como,
aliás, recomenda o PCN de língua portuguesa (BRASIL, 1998). Diariamente, os
alunos são bombardeados fora da escola por textos e imagens que informam muito
mais do que aparentam, ou seja, em seu bojo há muito mais significados, dentre
eles, as informações implícitas. Além disso, os vários livros didáticos usados
nas escolas públicas apresentam, geralmente, uma gama de textos previsíveis
como (narrativos, descritivos, argumentativo, expositivos, entre outros).
O
currículo proposto pelo Estado e Prefeitura de São Paulo para língua portuguesa
(e aqui na cabe nenhuma crítica), por exemplo, oferece livros didáticos,
apostilas e cadernos de apoio para que o professor possa trabalhar conteúdos e
textos com os alunos. Mesmo sabendo que muitos são materiais de apoio, e não
fim exclusivo, pudemos perceber, durante estágios realizados nas escolas EMEF
Bendito Calixto e Escola Estadual Governador Paulo Sarasate, que, geralmente,
os professores preferem apoiar suas aulas nos textos contidos nos materiais de
apoio, livros didáticos, entre outros, deixando de lado textos que circulam nas
várias esferas sociais, inclusive no dia a dia dos alunos, impossibilitam o
trabalho com gêneros textuais que, muitas vezes, não estão nos livros usados em
sala de aula, mas nas ruas.
Bakhtin nos diz que “é preciso dominar bem os gêneros para
empregá-los livremente” (p. 284).
Quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais
livremente os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a
nossa individualidade (onde isso é possível e necessário), refletimos de modo
mais flexível e sutil a situação singular da comunicação; em suma, realizamos
de modo mais acabado o nosso livre projeto de discurso. (BAKHTIN, 2003, p. 285).
Diante
disso, defendemos que haja, também (fato que justifica o artigo), um trabalho
de ensino e de prática de leitura diária que levem em conta tanto a diversidade
de textos que circulam em sociedade quanto suas particularidades (elementos
linguísticos presentes). Cada gênero apresenta variadas formas de linguagem que circulam em nossa
sociedade, sejam eles formais ou informais e tem estilo próprio, podendo, ser
identificado e diferenciado dos demais através de suas características.
Dentre os vários elementos
linguísticos presentes no texto, podemos destacar as categorias de
análise postos, pressupostos e subentendidos
como partes de uma análise ampla de um texto, porque a leitura não se dá apenas
no dito (verbal e visual), mas também, nas entrelinhas, por trás do que é dito
(nos implícitos), ativados pelos pressupostos, por meio de elementos
linguísticos. Com isso, faz-se necessário que o professor torne rotineiro e
gradativo (conforme a série) a leitura e análise de diversos textos para que o
aluno desenvolva habilidades e competências necessárias para dialogar com as
várias esferas discursivas sociais. O papel do professor língua português é,
também:
[...] conduzir o aluno ao estudo de aspectos
semântico-discursivos, especificamente das noções de pressupostos e
subentendidos, para o desenvolvimento de habilidades de leitura nos diversos
níveis de escolaridade, com vistas a contribuir para a formação de leitores
atuantes e críticos, capazes de encarar a leitura como um processo dialógico.
(FERNANDES, 2011, p. 2).
Um corpus
privilegiado para o estudo de aspectos semântico-discursivos é a propaganda
política. 2014 é um ano eleitoral,
teremos eleições presidente, governadores, senadores, deputados federais e
estaduais. Nas ruas das cidades circularão panfletos
e propagandas sobre os candidatos e suas propostas. Certamente, esses gêneros
estarão carregados de significados, pois o marketing político trabalha para que
o interlocutor desse material se convença de que o candidato x ou y seja a
melhor opção para representar o povo. Portanto, Momento significativo para que
o professor de língua portuguesa traga esse material para a sala de aula,
discuta e analise-o junto aos alunos.
Com
isso, propomo-nos a analisar um corpus
político - o discurso eleitoral dos candidatos a prefeito de São Paulo Marta
Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (Democratas) que veicularam suas propagandas nos
panfletos distribuídos pelas ruas, durante o segundo turno das eleições para
prefeito de São Paulo, em 2008 e demonstrar de que forma o professor pode apresentar,
abordar e explorar esse tipo de gênero textual em sala de aula.
Nossa
intenção não é dar nenhuma formula ou esgotar as possibilidades de análise no
texto, mas, sim, apontar um caminho e mostrar uma possibilidade de trabalho com
o gênero discursivo política. Ou seja, chamamos a atenção para a necessidade de
se apresentar para os alunos outros tipos de texto que não constam nos livros e
cadernos de apoio, cabendo ao professor escolher de que forma, com quem e para
quem ele vai trabalhar com esse conteúdo, a nosso ver passível de adaptação.
Além disso, a escolha do corpus se
justifica porque ainda não há em circulação panfletos dos candidatos a eleição
– 2014. Usamos material disponível em nossos arquivos. É importante que o
professor também realize a análise com materiais atuais.
Para que a nossa proposta fique
clara, especificamente,
levantaremos as informações implícitas e analisaremos de que forma os
candidatos Marta Suplicy e Gilberto Kassab constroem sua imagem e a imagem do
outro, por meio da linguagem, a fim de chamar a atenção da população em busca
dos votos. Para alcançar esse objetivo utilizaremos o conceito de pressupostos
segundo a autora Ingedore Koch, e a teoria da formação imaginária proposta por
M. Pêcheux. As questões que sustentam a nossa análise são: a) qual dos candidatos
empregou um discurso mais agressivo? b) qual deles apostou mais na sua própria
imagem? c) qual deles apostou mais na difusão do plano de governo? O corpus
deste artigo é constituído por fragmentos dos panfletos dos dois candidatos,
distribuídos pelas ruas da cidade.
Num primeiro momento, o professor
pode combinar com os alunos para que eles coletem materiais distribuídos nas
ruas; chamar a atenção da turma para os aspectos estéticos dos panfletos,
cores, imagens, formas e conteúdos, de preferência com panfletos atuais. Num
segundo momento, pode expor a parte conceitual e teórica para, então, entrar
com a análise dos pressupostos no texto, ou vice e versa, de acordo com série. O
importante é que os alunos sejam levados a se apropriar das características
desse discurso. Quanto ao tempo estimado, fica a cargo do professor organizar
as atividades de análise dentro do seu planejamento.
EMBASAMENTO TEÓRICO
Os
sujeitos e suas ações na sociedade, desde os atos mais simples até os mais
complexos, são constituídos pela linguagem. Diante disso, compreendemos
linguagem como trabalho e não apenas
como suporte do pensamento, ou como o elemento necessário pela sustentação do
processo comunicativo – definições que não dão conta do complexo funcionamento
da linguagem. (TORRESAN, 2001, p.1).
Linguagem
e interatividade são termos que se complementam. O processo interativo resulta
em produção de diversos discursos, cuja finalidade de seus produtores deixa de
ser, em vários casos, uma simples comunicação gratuita e sim uma criação de
efeito de sentido, afinal “a linguagem
enquanto discurso é interação, é um modo de produção social; ela não é neutra,
inocente (na medida em que está engajada numa interacionalidade) e nem natural,
por isso o lugar privilegiado da ideologia”. (BRANDÃO, 1996, p.12). A linguagem diante disso é
compreendida como lugar de conflito, de confronto ideológico, não podendo ser
separada do momento histórico.
Para a
Análise do Discurso, o discurso é uma prática, uma ação do sujeito sobre o
mundo. Por isso, sua aparição deve ser contextualizada como um acontecimento,
pois funda uma interpretação e constrói uma vontade de verdade. Quando
pronunciamos um discurso agimos sobre o mundo, marcamos uma posição - ora
selecionando sentidos, ora excluindo-os no processo interlocutório.
Neste
artigo analisamos um gênero discursivo que constitui um lugar privilegiado da
relação entre a língua, à história e a ideologia: o discurso político. O que nos interessa, especificamente e de
forma sucinta, é o discurso eleitoral das eleições 2008 para prefeito de São
Paulo, onde figuram como concorrentes do segundo turno: Marta Suplicy[1]
(PT) e Gilberto Kassab[2]
(Democratas) que veicularam suas propagandas nos panfletos distribuídos pelas
ruas que cortam a (Praça da República-região central da cidade de São Paulo)
durante o segundo turno das eleições para prefeito de São Paulo.
DISCURSO POLÍTICO: DISCURSO E MARKETING
O
discurso que é produto do período eleitoral é construído com a intenção de
chamar a atenção e de fazer com que os interlocutores (a população) assumam
este discurso – portanto há uma estratégia de marketing muito acentuada
praticamente parecida com os anúncios publicitários de outros tantos produtos.
Aqui o professor pode discutir com os alunos a influencia das propagandas,
mídias, imagens e crenças.
É
possível afirmarmos que o discurso político se constitui de outros discursos,
ou seja, há no discurso do período eleitoral uma relação interdiscursiva. Na
prática, significa que o que é produzido pelos políticos (pelos partidos) em
períodos eleitorais é constituído também pelo discurso do marketing,
como justificar, por exemplo, o trabalho dos candidatos a fim de conquistar o
voto dos eleitores indecisos? Como justificar as massivas propagandas
eleitorais e a quantidade de propagandas panfletárias que circulam pela cidade
durante as eleições?
Para
destacar alguns conceitos que norteiam o discurso político, evocamos o conceito
utilizado pela autora Jacques Sequela em seu livro: “VOTO É MARKETING O RESTO É POLÍTICA” apud Roberto (2002), onde
destaca alguns princípios estratégicos que contemplam todo o trabalho do marketing político, para que o candidato
tenha sucesso frente às eleições:
1°
Conheça o que pensa o eleitor, antes de partir para a sua conquista;
2°
Não basta ter o perfil desejado pela população, é preciso associar sua imagem a
ele antes dos adversários;
3°
Trabalhe na linha de menor resistência ou posicionamento na mente do eleitor;
4°
O eleitor sempre associará o candidato à continuidade ou mudança. Compatibilize
sua imagem com a tendência predominante, respeitando os limites impostos por
sua personalidade;
5°
Confirme os defeitos do inimigo junto ao eleitorado. Ataque nesse ponto;
Nesse
momento, o professor pode discutir com a turma a respeito do discurso das
propagandas, suas características apelativas, pode, também, discutir sobre as
propagandas políticas, o que mais chama a atenção, aspectos políticos e
partidários. O importante é tomar nota do discurso político associado ao
marketing.
AS FORMAÇOES IMAGINÁRIAS
Adotamos o seguinte
posicionamento: “o discurso pertence a um
sistema de normas que derivam da estrutura de uma ideologia política,
correspondendo, pois, a um certo lugar no interior de uma formação social
dada”. (PÊCHEUX, 1993, p.77).
Desta forma, as posições que um
indivíduo pode ou deve ocupar no discurso são autorizadas pelas formações
imaginárias, que derivam da experiência humana, ao longo do tempo no contexto
social. Ou seja, a imagem que o indivíduo faz da posição (ou posições) que
ocupa em um determinado discurso origina-se de uma formação imaginária e
manifesta-se discursivamente por meio da materialidade linguística, podendo
haver marcas linguísticas específicas que revelem a posição de sujeito assumida
por quem diz.
Toda
vez que o sujeito de um discurso toma a palavra, ele mobiliza um funcionamento
discursivo que remete a formações imaginárias. De acordo com Pêcheux (1993) o
discurso produzido por um sujeito pressupõe um destinatário que se encontra num
lugar determinado na estrutura de uma formação social. Tal lugar aparece
representado no discurso por formações imaginárias que designam o lugar que o
sujeito e o destinatário se atribuem mutuamente, ou seja, a imagem que fazem de
seu próprio lugar e do lugar do outro.
Ainda
nas concepções de Pêcheux (1993), num discurso estão presentes: um sujeito A e
um destinatário B, que se encontra em lugares determinados na estrutura de uma
formação social. Esses lugares se acham não apenas representados nos processos
discursivos, mas transformados. Daí um discurso não implicar necessariamente
uma mera troca de informações entre A e B, mas sim um jogo de “efeitos de
sentido” entre os participantes. Os sentidos seriam produzidos por um certo
imaginário, que é social e é, por sua vez, resultado das relações entre poder e
sentidos. E a ideologia seria a responsável por produzir o desconhecimento dos
sentidos através de processos discursivos observáveis na materialidade
linguística.
Em Pêcheux (1993) fica evidente
que os sentidos são produzidos num imaginário social, resultante das relações
entre poder e sentidos, emitindo esforços para que o efeito de sentido produza
a impressão de um sentido único, é um jogo de efeitos de sentido, no qual os
sujeitos se encontram em lugares determinados na estrutura de uma formação
social. Esses lugares designam as imagens que os interlocutores fazem de seu
próprio lugar e do lugar do outro:
IA (A): Imagem que o locutor faz de si próprio – Quem
sou eu para falar da forma como falo?
IA (B): Imagem que o locutor faz do seu interlocutor -
Quem é ele para que eu lhe fale assim?
IB(B): Imagem que o interlocutor faz de si próprio -
Quem sou eu para que ele me fale assim?
IB (A): Imagem que o interlocutor faz do locutor -
Quem é ele para que me fale assim?
Tabela formulada a partir de Pêcheux (1993, p.83).
Em nossa proposta de análise
nos interessa as formações imaginárias do lugar de A, representado pelos
candidatos Marta Suplicy e Gilberto Kassab com suas respectivas representações
partidárias e estratégias discursivas que vão resultar na imagem de cada um, o
lugar de B onde cada candidato constrói a imagem do outro por meio do discurso
e, por fim, como ambos constroem a imagem do referente C (sua identidade),
representado pelos eleitores. Para chegar às imagens criadas por cada
candidato, destacaremos e analisaremos as informações implícitas, que, revelam
de que forma cada candidato diz o que diz e o que está por trás desse dizer na
superfície textual constituindo as formações imaginárias.
Aqui o professor pode pedir
para a turma dizer qual a imagem que certas pessoas, profissionais ou famosos
transmitem e como ela fala na posição em que se encontra. Por exemplo, um
jogador de futebol que, geralmente, apresenta uma imagem e comportamento
discursivo regular. Pode-se questioná-los quanto à imagem que cada candidato
eleitoral passa para eles e assim por diante.
Concordamos
com Koch (2002, p.159) quando destaca que “cumpre
mostrar-lhe que, além da significação explícita, existe toda uma gama de
significações implícitas, muito mais sutis, diretamente ligadas à
intencionalidade do produtor”.
Ao
analisar as relações de sentido em enunciados, algumas palavras ou expressões
introduzem pressuposição. Entre os indicadores linguísticos de pressuposição,
podem-se citar certos adjetivos ou palavras similares modificadoras do
substantivo, verbos que indicam mudança ou permanência de estado, advérbios,
orações adjetivas e conjunções, os quais, ao serem identificados, contribuem
para uma leitura mais aprofundada do texto.
Para
Koch (2004, p.160), “a intelecção de um
texto consiste na apreensão de suas significações possíveis, as quais se
representam nele, em grande parte, por meio de marcas linguísticas”. Na leitura e interpretação
de um texto, é muito importante detectar os pressupostos, pois o seu uso é um
dos recursos argumentativos utilizados com vistas a levar o ouvinte ou o leitor
a aceitar o que está sendo comunicado. Ao introduzir uma ideia sob a forma de
pressuposto, o falante transforma o ouvinte em cúmplice, uma vez que essa ideia
não é posta em discussão e todos os argumentos subsequentes só
contribuem para confirmá-la.
Para
Ducrot apud Koch (2004, p.56) “pressupor
não é dizer o que o ouvinte sabe ou o que o se pensa que ele sabe ou deveria
saber, mas situar o diálogo na hipótese de que ele já soubesse”, além
disso, o autor destaca o que chama de pressuposto:
Chamarei de pressuposto de um enunciado às indicações que ele
traz, mas sobre as quais o enunciador não quer (ou faz como se não quisesse)
fazer recair o encadeamento. Trata-se de indicações que se dá como estando à
margem da linha argumentativa do discurso. (KOCH, 2004, p.65).
Portanto, nos utilizaremos
dessa concepção para verificar o que está por trás do que é dito e quais são os possíveis sentidos
desse não dito na formação da imagem
dos candidatos.
Aqui cabe uma discussão a
respeito de como criamos a imagem das coisas, fatos e pessoas. O professor pode
reforçar a discussão pedindo para que os alunos digam qual imagem eles fazem de
certos candidatos, postos de trabalho, personalidades, cantores, artistas, ou
seja, quais comportamentos sociais e linguísticos são esperados por aquele
individuo na posição em que ocupa.
Panfleto 1 – (pág. A)
1. § - “Quero ser prefeita porque amo
esta cidade. Porque é preciso terminar o trabalho que começamos. Porque São
Paulo quer mudar".
2. § - E, para mudar, precisa de uma
nova atitude.
3. § - O maior desafio é diminuir a
desigualdade social. Precisamos melhorar a vida de todos. Mas, principalmente,
dos que mais necessitam.
4. § - Vamos ampliar os programas para
os mais pobres. E apoiar, fortemente, os que saíram da pobreza – e agora formam
uma nova classe média. Os que têm melhor nível de renda também precisam ser
atendidos, porque são os que pagam mais impostos.
5. § - O trânsito e o transporte não
podem continuar dando tanto prejuízo e dor de cabeça. O sistema de saúde
precisa melhorar o atendimento, acabar a demora absurda nos exames e oferecer
serviços de especialidades para tratar as doenças mais sérias.
6. § - Na segurança, temos que combater
a violência e a criminalidade.
7. § - Na educação, temos que melhorar a
qualidade do ensino e criar a Rede CEU, fazendo com que os CEUs cheguem a toda
a cidade.
8. § - Os problemas são muitos. Mas com
realismo, coragem e criatividade, podemos vencê-los.
9. § - Para isso é preciso uma nova
atitude.
Quadro das informações implícitas
contidas no discurso:
Identificação
dos parágrafos
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Informações Implícitas
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1o.
Parágrafo
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-
Kassab não ama a cidade e não terminou o que foi deixado por Marta;
-
há um índice de polifonia que deixa evidente uma voz, no caso, a sociedade
paulistana pede mudança e está cansada do atual governo.
|
2o.
Parágrafo
|
-
A gestão e atitude de Kassab estão ultrapassadas.
|
3o.
Parágrafo
|
-
Há desigualdade social na sociedade paulistana ainda permanece na gestão
atual;
-
a vida da população está ruim e pior ainda está a vida dos mais carentes.
|
4o.
Parágrafo
|
-
Os atuais programas não atendem os mais pobres. Parte da população que sai da
pobreza para a classe média não tem apoio, por parte do prefeito, para
permanecer na mesma, apesar de pagarem mais impostos.
|
5o.
Parágrafo
|
-
O sistema de transporte administrado pelo prefeito ocasiona prejuízo e
preocupações à população;
-
o sistema de saúde está ruim e demorado e não atende adequadamente a
população. O sistema de saúde está deficitário e impossibilitado de atender
as necessidades da população.
|
6º.
Parágrafo
|
-
A cidade ainda sofre com a falta de segurança e a criminalidade.
|
7º.
Parágrafo
|
-
O ensino das escolas da cidade está ruim e faltam escolas em pontos da
cidade.
|
8º.
Parágrafo
|
-
Na gestão do atual prefeito há vários problemas;
-
falta realismo, coragem e criatividade, por parte do prefeito, para resolver
os problemas da cidade.
|
9º.
Parágrafo
|
-
Kassab não tem atitude adequada para governar a cidade.
|
IAB = a imagem que o candidato do panfleto
faz do seu concorrente:
Para a candidata Marta, na gestão do atual prefeito, há
vários problemas, falta realismo, coragem e criatividade por parte do prefeito para
resolver os problemas da cidade. Kassab não tem atitude adequada para governar
a cidade. Kassab não ama a cidade e sua gestão está ultrapassada.
IAA = a imagem que o candidato do panfleto
faz de si mesmo:
Marta afirma amar a cidade, ela associa sua imagem a de uma
prefeita que irá acabar com as desigualdades sociais, apoiar pobres e
recém-saídos da pobreza. Acredita que irá sanar os problemas da saúde e acabar
com a violência. Marta associa sua imagem a de uma prefeita realista, corajosa
e criativa para governar a cidade.
IAR = a imagem que o candidato faz do
referente do discurso, ou seja, das necessidades da população e/ou promessas de
campanhas:
Para a candidata, a população suplica por uma nova atitude,
por alguém que ama a cidade e irá tirá-la da desigualdade social, amparar as
pessoas carentes, necessitadas de saúde, segurança e educação. Com isso, a
candidata propõe soluções para essas carências da população.
Panfleto 2 – (pág. B-1)
“O melhor da saúde”
1. § - O melhor da saúde. “Kassab
manteve ações de Serra, ampliou e criou programas importantes para a saúde”.
2. § - Havia 21 AMAs quando Kassab
assumiu. Fez mais 89, completando 110 AMAs.
E ele quer mais. Criou as AMAs
Especialidades. Já fez 2, vai fazer 15.
3. § - Completou e entregou os dois mais
modernos hospitais da rede pública municipal, Cidade Tiradentes, na Zona Leste,
e M’Boi Mirim, na Zona Sul. E ainda este ano vai começar as obras de mais um, o
Hospital Parelheiros.
4. § - Reformou e colocou computadores
nos postos de saúde.
5. § - Esta administração resolveu a
falta de remédios nos postos de saúde.
6. § - Nenhum outro governo fez tanto
pela saúde da população de São Paulo.
Quadro dos pressupostos contidos no discurso:
Identificação dos parágrafos
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Informações Implícitas
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1º. Parágrafo
|
- O ex-prefeito José Serra
mantinha programas importantes para a área da saúde e esses programas
necessitavam serem ampliados.
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2o. Parágrafo
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-
Havia um número insuficiente de unidades de AMAs;
-
Kassab está suprindo essa necessidade.
|
3º. Parágrafo
|
-
Kassab investe em construção de hospitais;
-
começa e termina as obras ao contrário de sua adversária.
|
4º. Parágrafo
|
-
Os computadores dos postos de saúde estavam velhos e precários e não havia o
suficiente para a demanda.
|
5º. Parágrafo
|
-
Na gestão da ex-prefeita Marta havia falta de remédios nos postos de saúde;
-
Kassab resolveu o problema.
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6º. Parágrafo
|
-
Só Kassab faz o suficiente para a saúde.
|
IAB = a imagem que o candidato do panfleto faz do seu concorrente:
Para o
candidato, a ex-prefeita não investia na área da saúde, havia um número
insuficiente de AMAs, faltavam hospitais, remédios nos postos de saúde e a
infraestrutura dos postos estavam velhos. Marta não dava atenção á saúde da
cidade.
IAA = a imagem que o candidato do panfleto faz de si mesmo:
Kassab
associa sua imagem a de seu antecessor José Serra e acredita ser o responsável
pelo avanço na área da saúde. Kassab começou e terminou as obras e resolveu os
problemas de saúde da cidade.
IAR = a imagem que o candidato(a) faz do referente do discurso, ou
seja, das necessidades da população e/ou promessas de campanhas:
Segundo
o candidato, a população necessita de mais programas de saúde, mais postos de
saúde AMAs, mais hospitais e mais remédios nos postos. Kassab trabalhou e
resolveu os problemas da população.
CONSIDERAÇOES FINAIS
Qual deles empregou um discurso mais agressivo?
Podemos
verificar na análise que, a candidata Marta Suplicy utilizou-se de mais
adjetivos para caracterizar seu adversário Gilberto Kassab: falta realismo,
coragem, criatividade, não tem atitude adequada para governar a cidade, não ama
a cidade.
O atual
prefeito apesar de utilizar-se do passado para expor e criar a imagem da
candidata utiliza menos adjetivos para qualificar sua adversária, para o
candidato, a ex-prefeita Marta não dava atenção á saúde da cidade.
Podemos
verificar que a candidata se preocupou mais em atingir a imagem do seu
adversário Gilberto Kassab. Apesar de o candidato também aferir acusações
descaracterizando a imagem da candidata, podemos verificar que ocorre com menos
intensidade do que no discurso da candidata, que forja uma identidade para seu
concorrente.
A
candidata Marta associa a sua imagem a do presidente Lula e coloca sua imagem
como uma prefeita que irá acabar com as desigualdades sociais e apoiar pobres;
julga-se: realista, corajosa e criativa, obstina em relação à ascensão da população.
O
candidato Gilberto Kassab associa sua imagem a de seu antecessor José Serra e
acredita ser o responsável pelo avanço na área da saúde, colocando-se como o
responsável por resolver os problemas de saúde da cidade.
A
candidata Marta, no panfleto (1), preocupou-se em destacar o que havia feito de
mais significante em sua gestão. Observando a composição das partes
selecionadas, fica claro que a candidata apostou mais na difusão de seu plano
de governo do que o candidato Gilberto Kassab. Este se preocupou mais em
apontar o que havia feito em seus dois anos de governo.
Fica
evidente que, em véspera de eleição, os candidatos procuram alcançar seus
objetivos por meio de discursos e construções imaginárias que, se não são bem
analisadas, constrói uma rede interpelativa onde cabe apenas ao eleitor
escolher aquele cuja imagem e propostas mais agradam como prefeito. Fica
evidente, a necessidade de analisarmos e discutirmos em sala de aula qual
discurso eleitoreiro se encontra em determinado momento da eleição, para que,
de fato, nós e nossos alunos saibamos com que tipo de propaganda estamos
expostos e que tipo de candidato nos são “oferecidos”.
Um material tão rico como esse, pode
e deve ser levado para as aulas de língua portuguesa. Certamente, esses
materiais não estão nos livros didáticos e nem são abordados dessa forma, o que
destaca ainda mais a necessidade de trabalharmos esse tipo de análise. O
professor de língua portuguesa deve proporcionar aos seus alunos contato com o
mais variados gêneros textuais para que o aluno possa conhecer, interpretar,
escrever e recriá-los. Em ano eleitoral, nada melhor do que aproveitar a oferta
de propagandas políticas para instrumentalizar nossos alunos com uma leitura
mais apurada dos mecanismos eleitorais.
Além disso, o material de propaganda
política oferece uma gama de oportunidades de exploração que não foram
contempladas aqui. O professor pode organizar diversas formas de análise do
material, construindo com os alunos atitudes de leitura crítica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Ática,
2003.
BEZERRA, Maria Auxiliadora.
Textos: seleção variada e atual. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Ana
Raquel (orgs.). O livro didático de Português: múltiplos olhares. Rio
de Janeiro: Lucerna, 2001.
FERNANDES,
N. M. Desenvolvimento de habilidades de leitura de textos a partir de análise
de pressupostos e subtendidos. In:
http://www.filologia.org.br/ixsenefil/anais/11.htm. Acessado em:
09/01/2014.
___________. Argumentação e
Linguagem. 9° ed. São Paulo: Cortez, 2004.
TORRESAN, Jorge Luís. A interação Pastor X Fiel da Igreja
Universal do Reino de Deus no Jornal Folha Universal – Um Jornal a Serviço de
Deus. São Paulo, 2001, p.01. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada
e Estudos da Linguagem), Universidade Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo.
[1] Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy (São Paulo, 18 de março
de 1945),
filiada ao PT. Já foi prefeita da
cidade São Paulo.
[2] Gilberto Kassab (São Paulo, 12 de agosto
de 1960),
filiado ao partido - Democratas (DEM), é economista, engenheiro
civil e político brasileiro. Prefeito da cidade de São Paulo na ocasião.