quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ANÁLISE DE UMA POESIA ROMÂNTICA: ÁLVARES DE AZEVEDO

ANÁLISE DE UMA POESIA ROMÂNTICA

Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 1831 – Rio de Janeiro, 1852). Sua poesia revela forte tendência para a fuga da realidade e para o sonho. Como se pode perceber, Álvares de Azevedo morreu ainda jovem, com apenas vinte anos, vítima de complicações causadas por uma queda de cavalo. Toda a sua obra – sete livros e diversos discursos e cartas – foram escritas em quatro anos, no período em que era estudante de Direito. Cultivou os gêneros líricos, narrativos e dramáticos. Seus textos revelam um jovem que deseja fugir da rotina, mas sente-se esmagado pelo peso da realidade. Há, portanto, na poesia desse jovem paulistano, uma triste forma de ver a existência, em que até o erotismo parece conduzir a decepção.

Em especial escolhi está poesia por se tratar de uma bela poesia romântica, de grande inspiração e desejo, expõe intensamente o eu subjetivo, de certa forma sonhador e real.

Poema

Meu desejo

Meu desejo? Era ser uma luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta:
A camélia que murcha no teu seio,
O anjo que por te ver do céu deserta...

Análise: O eu lírico, que sonha, deseja, está bem presente nesta estrofe. Coloca pra fora o poeta “piegas” e sonhador, que delira com a pessoa desejada, e engendra ser aquilo que está sobre seu redor.

Meu desejo? Era ser o sapatinho
Que teu mimoso pé no baile encerra...
A esperança que sonhas no futuro,
As saudades que tens aqui na terra...

Análise: Aqui o poeta vai mais longe, dá seqüência ao seu desejo carnal de estar uno com a amada, já misturando sonho e esperança o que se aproxima da vida do autor que não foras bem sucedidos no amor.

Meu desejo? Era ser cortinado
Que não conta os mistérios do teu leito;
Era de teu colar de negra seda
Ser a cruz com que dormes sobre o peito.
Meu desejo? Era ser o teu espelho
Que mais bela te vê quando deslaças
Do baile as roupas de escumilhas e flores
E mira-te amoroso as nuas graças!

Análise: O poeta está cortinado..., desejas chegar mais longe, a natureza do desejo sexual se aflora chegando ao último verso. O poeta imagina sua amada deslaçada e nua, suspira por isso... As imagens espirituais também estão presentes nessa estrofe..

Meu desejo? Era ser desse teu leito
De cambraia o lençol, o travesseiro
Com que velas o seio, onde repousas,
Solto o cabelo, o rosto feiticeiro...

Análise: O poeta continua a “descortinar” a amada, deseja ser aquilo que está à volta da amada, envolvendo-a na sua sedução. As imagens físicas são presentes nessa estrofe.

Meu desejo? Era ser voz da terra
Que de estrela do céu ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas, que desejas
Na cismas encantadas de langor!

Análise: Nesse ponto o poeta já entra com tudo no Romantismo, almejando tornar-se amante “ideal”. O eu lírico se projeta como tal. Deseja sua amada carnalmente, sexualmente, espirituosamente...


Comentários: No poema fica claro que a intenção do poeta é a de a possuir a amada, exemplo: “Meu desejo? Era ser o teu espelho - Que mais bela te vê quando deslaças - Do baile as roupas de escumilhas e flores - E mira-te amoroso as nuas graças”, ao menos é o que está implícito, porém observando a poesia e relacionando-a com o poeta, talvez traga a sina que durante sua vida, idealizou amores que ele próprio nunca conseguiu concretizar.

Análise:
O poema tem o formato de rima A, e versos decassílabos.

*O poema constrói-se a partir do desejo do eu-lírico ser aquilo que está ao redor da amada. Essa construção desenvolve-se em três campos lexicais (de palavras): imagens, espirituais e sensitivas. E revela um desejo de natureza física sexo, prazer carnal...

Imagens físicas: luva branca, mãozinha, seio, sapatinho, cortinado, cruz, peito, espelho, lençol, travesseiro, amante.
Imagens espirituais: anjo, esperança, sonha (amante), cruz, saudades, voz da terra.
Imagens sensitivas: saudade, sonho, tato, visão.

Algumas outras características...

O dualismo é uma forte característica dos ultra-românticos, e não seria diferente no caso do amor. O amor dos ultra-românticos envolve atração e medo, desejo e culpa. No caso de Álvares de Azevedo cultiva-se um mito a respeito de sua virgindade, principalmente pelo medo da realização amorosa presente em seus versos. A mulher, como já foi falado, quando idealizada é geralmente associada a figuras assexuadas ou sobre-humanas como virgem, criança pura ou anjo, demonstrando um forte afastamento do amor físico, que se dá apenas de modo subjetivo.

Outra característica que demonstra o medo de amar é a presença marcante do amor platônico. Assim como no famoso romance Werther de Goethe, os personagens de Álvares de Azevedo apaixonam-se perdidamente por mulheres casadas, comprometidas, ou com qualquer outra complicação que torne esse amor impossível. O próprio Álvares de Azevedo produziu alguns poemas intitulados "A T..." e "C...", achando nas reticências uma forma de dedicar o poema ou fazer alusão a alguma mulher comprometida mantendo-a no anonimato, e sem arranjar qualquer tipo de complicações na sociedade completamente convencional e moralista da época (ao menos nas aparências).

Considerações finais: é observável que está é uma possibilidade de interpretação, longe de qualquer subjeção, a poesia é fechada, porém aberta.

BIBLIOGRAFIA:

ALFREDO, Bosi. História concisa da literatura brasileira. São Paulo Ed. Cutrix - 24ª Ed., 2004.

Texto retirado de uma Xerox trabalhada pelo professor J. Luis Landeira, não consta à fonte.

2 comentários:

Gustavo disse...

muito boa sua análise, parabéns, me ajudou muito...

Unknown disse...

FREZA PQ VC MATOU O CURIRIM?? EU ESTOU NEVOUSO,EU ESTOU NEVOUSO FREEEEZZAAAAAAAAAA